Universitários, já nascidos no Brasil, contam para avós estupefatos que, durante a manhã, estiveram a menos de trinta centímetros de Sua Alteza Sereníssima, o Príncipe Imperial Naruhito. E, em determinados momentos, trocando ideias com ele sobre assuntos diversos, chegaram a se encarar, olho no olho. A resposta dos velhinhos, devidamente vertida para o português, teria sido mais ou menos a seguinte:

– “Pelas geleiras do sagrado Fujiyama! Vocês estão zombando deste honorável senhor e desta venerável senhora. Perdão… isto jamais aconteceria em nossas vidas, desde que vimos as primeiras floradas de cerejeiras em nossa aldeia, perto de Kameido*, no começo do século passado” …

Trata-se de um diálogo imaginário. Mas povoa a cabeça de quem, na manhã de 20 de junho p.p., assistiu a um envolvente encontro com Sua Alteza Imperial, o Príncipe Naruhito.

Reunidos pela Reitoria da Universidade de São Paulo, foi facultado, para grupos representativos de alunos que atualmente cursam as áreas que abrangem as múltiplas especialidades daquela instituição de ensino, o contato interpessoal com o ilustre visitante. Sem dúvida, uma excelente experiência para ambas as partes que aconteceu nos salões do Prédio Histórico das Arcadas.

Precedido de rigoroso esquema protocolar, Sua Alteza cumpriu exato horário de chegada ao Salão Nobre da Faculdade de Direito, onde foi recebido pela Reitora da USP, professora Suely Vilela, acompanhada do diretor da instituição anfitriã, Professor Titular João Grandino Rodas, cercado de colegas, convidados especiais, alunos, antigos alunos e jornalistas. Um registro importante: a escolha do local para o esperado encontro com o nobre visitante prestigiava uma das Faculdades, entre aquelas que compõem o complexo de entidades da USP, que teve entre os seus formandos cerca de 1.500 descendentes da ordeira e operosa colônia japonesa no Brasil.

Na platéia, em disciplinada disposição, estava presente um número considerável de representantes da nação oriental, assim como de seus descendentes, além de convidados das instituições que promoveram o evento, um dos mais aguardados do extenso programa desenvolvido pela comitiva nipônica, na capital paulista. Característica dos rigores protocolares: todos portavam em suas mãos bandeirinhas dos dois países amigos que, como realmente aconteceria instantes depois, serviriam para saudar o ilustre visitante.

Ao entrar no Salão Nobre, Sua Alteza, o Príncipe Naruhito, ouviu o hino nacional dos dois países, executados pela Banda da Polícia Militar com o apoio de um coral nipo-brasileiro.

Em breve alocução, o visitante saudou os presentes e, com simpatia, agradeceu a atenção que recebia, fazendo questão de elogiar o coral que se apresentara (Sua Alteza é reconhecido como um excelente violinista amador).CULTURA, TRADIÇÃO E SIMPATIA

Situação vivida no lar de uma família de japoneses e seus descendentes, na capital paulista, durante o mês de junho de 2008.

 

Em seguida, encaminhou-se para a parte mais importante do programa daquela manhã no Centro de São Paulo: o corpo-a-corpo com os jovens universitários paulistas.

Inicialmente, foi saudado pela reitora Professora Suely Vilela, que, em rápida exposição feita em inglês, apresentou os principais dados da integração de programas envolvendo a USP e congêneres japonesas, além de salientar o orgulho e a satisfação de participar daquele evento.

Na sua fala, ressaltou a progressiva presença de representantes da colônia nipônica, tanto no segmento docente como entre os alunos da Universidade. Neste aspecto, enfatizou as características marcantes do aluno nato ou descendente de japoneses, em todas as especialidades do enorme campus da USP: seriedade, dedicação, disciplina e constante progresso. Bastante aplaudida, foi seguida do pronunciamento do Príncipe. Surpreendendo a todos, Sua Alteza expressou-se em… português! Suas palavras foram de simpatia para com os anfitriões, agradecimentos pela oportunidade “de um encontro muito próximo com o segmento de universitários brasileiros, um público especial, em um ambiente em que se sente perfeitamente à vontade…”. Em seguida, fez elogios ao progresso do ensino no Brasil e ao seu reflexo “no pujante crescimento da economia deste país”.

Após os aplausos, Sua Alteza iniciou o agradável bate-papo com os universitários, que, postados em grupos de até quatro representantes, de maneira ordeira e disciplinada, aguardavam a aproximação do visitante.

Fluindo com desenvoltura e enorme simpatia, a cativante personalidade daquela autoridade foi se espalhando entre os presentes no Salão que, de maneira generosa, soube acolher e, além disso, usufruir da inteligência daquela destacada personagem mundial.

Um dia consagrador para os universitários paulistas. Segundo os organizadores, integrantes da sua comitiva, “Sua Alteza estava levando a melhor das impressões do estudante universitário do Brasil”.

*Kameido existe e é um local tido com um verdadeiro jardim natural. Fica a poucas horas de Tóquio e é muito visitado, tanto por turistas como pelos residentes do País do Sol Nascente.

(apud “Encyclopaedia Britannica”/ vol. XII)