Tradições
Aqui historiamos, como num panorama, a trajetória de nossa Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP, desde sua fundação em 1931.Aqui historiamos, como num panorama, a trajetória de nossa Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP, desde sua fundação em 1931.
Foi assim que nasceu o “pique-pique”, em São Paulo, entre estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco:
Guilherme de Almeida, o príncipe dos poetas brasileiros, dedicou ao episódio uma de suas deliciosas crônicas (Ontem – Hoje – Amanhã) publicada no Diário de S. Paulo, edição de 12 de setembro de 1952, exatamente sob o título “O pique-pique”.
Ei-la:
“Conversa entre amigos. Faz pouco tempo. Na Rádio Tupi, durante o cafezinho, à margem do programa ‘Repto aos Enciclopédicos’. Fugas do pensamento, Marcha-à-ré no Tempo. Estudantadas. A velha Faculdade… E alguém:
– É verdade… Por quem, e quando, teria sido inventado o popularíssimo ‘Pique- pique’: a já tradicional saudação dos estudantes? Garanto que com essa pergunta eu abiscoitaria os 250 cruzeiros!
“Ora, estava na roda o meu amigo Ubirajara Martins. Tomou um arzinho entendido, sorriu e prometeu-me um fiel depoimento a respeito. Prometeu e cumpriu. E a mim, agora, a agradável tarefa de resumir o pitoresco e fidedigno histórico.
“1923. A turma que iria colar grau em 1927 (a do Primeiro Centenário da Faculdade) cultuava a boa boemia. Três estudantes – o Ubirajara, o Aru Medeiros e o Mário Ribeiro da Silva – fundaram uma alegre sociedade que se chamou “Pudim”. Com bom fermento, o “Pudim” cresceu: desbravou o Interior com uma “Bandeira Acadêmica”, composta de um team de futebol, um jazz e um grupo teatral: somente estudantes, e não apenas de Direito, mas já também de Medicina, da Politécnica e do Mackenzie.
“Ora, essa turma precisava de um grito-de-guerra. Não lhe bastava o corriqueiro ‘Rá-rá-tchim-bum!’ Sentia necessidade de coisa mais característica… Ora, na sua trindade fundadora, havia, primeiro, o apelido de Ubirajara: ‘pique-pique’ (por causa dos seus bigodes feitos de pontas agressivas como ‘picos’); depois, a expressão ‘inexpressiva’ do Mário, que, a qualquer propósito, cortava a perlenga do interlocutor com um inoportuno e incompreensível: ‘Meia hora’…
“Ora, certa noite, na ‘Pérola do Douro’ – um bar lusitano da Avenida São João, lá no Paissandu – quando ia alta a noite, e alto o nível alcoólico, a cada trago novo Mário brindava Ubirajara, dizendo ‘Pique-pique, pique-pique, pique-pique!’ E a Ubirajara a vez de replicar: ‘Meia hora, meia hora’. Daí, para emendar com o ‘Rá-rá-tchim-bum!’ foi um relâmpago. Estava criado o hino ́’ do ‘Pudim’ e da ‘Bandeira’: o grito de guerra de toda a estudantada de hoje.
“Quando foi entoado pela primeira vez? No dia seguinte àquela noite de farra, durante a visita do Marajá de Kapurtala à Faculdade: assim saudado, o príncipe hindu manifestou vivo interesse pela harmonia e sugestiva língua falada no Brasil”…”
Apud Rosas no Inverno – memórias, Lauro Malheiros, pág. 173
(Para serem cantadas nas comemorações do Centenário do Centro Acadêmico XI de Agosto) Paulo Bomfim
Arco-íris Francisco,
Arcadas, arcos de amor,
O 11 levo em meu peito
E vai também onde eu for!
Irmãos, irmãos centenários
Das gerações que passaram,
Passeatas foram passando
Mas os seus sonhos ficaram!
Milagre da São Francisco,
Milagres da liberdade,
O centenário do 11
É a alma da Faculdade!
As pedras guardam memórias,
Arcadas arcam lembranças,
Saudade hoje se casa,
Se casa com a esperança!
No Largo de São Francisco
Os moços andam direito
Porque o direito de todos
É o coração do Direito!
O som do sino repete
Um tom cantando no bronze,
É a voz da História saudando
O centenário do 11!
O pavilhão que empunhamos
Com devoção, com orgulho,
Nasceu em 11 de Agosto
E fez o 9 de julho!
As lutas que nós lutamos
Tem sangue da liberdade,
São rimas da Faculdade,
São rumos da mocidade!
O centro centra a cidade
E o canto que vem de dentro
Repete que o estudante
É o coração desse Centro!
No pátio e na escadaria
O tempo fica encantado:
Futuro vira presente,
Presente vira passado!
O centenário que canto
Com luz do sol em meu rosto,
É amor nascido no Largo,
É 11, é o 11 de Agosto!
Quando se sente bater
No peito heroica pancada,
Deixa-se a folha dobrada
Enquanto se vai morrer…
Não sei se é fato ou se é fita,
Não sei se é fita ou se é fato,
O fato é que ela me fita,
Me fita mesmo de fato.
A moça que eu namoro,
E que me quer muito bem,
Tem um sorriso que encanta,
Quinhentos contos também…
A moça disse p’ra outra:
– Com esse não me arrisco,
Pois ele estuda Direito
No Largo de São Francisco.
O amor de um estudante
Dura apenas meia hora,
Bate o sino, vai p’ra aula
Vêm as férias, vai-se embora.
Parece mentira parece
Mas é verdade patente,
Que a gente nunca se esquece
De quem se esquece da gente…
Eu vi um rio chorando
Quando te foste banhar.
Chorava o pobre regato
Por não poder te levar…
Quisera ser trepadeira
P’ra na parede subir
E vê-la todas manhãs
No seu quarto de vestir…
Muita espécie me causam
As tuas roupas ó prima,
São muito altas em baixo,
São muito baixas em cima.
Estava na beira da praia,
Comendo amendoim,
Veio o Ataliba e disse:
– O Estado é meio e não fim.
Onde é que mora a amizade,
Onde é que mora a alegria?
No Largo de São Francisco,
Na Velha Academia…
E para os Antigos Alunos nada?
– Tudo!
– E para sua simpatia, o quê
– Um “quim quim querum”!
Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
Frère Jacques, frère Jacques,
dormez vous, dormez vouz,
sonnent les matines, sonnent les matines,
din, den, don,
din, den, don.
J’ai perdu le dó de ma clarinette,
de ma clarinette j’ai perdu le dó.
Prá Direito poder ganhar,
há, há, há,
é preciso juiz roubar,
há, há, há.
Prá Direito poder ganhar,
há, há, há,
é preciso juiz roubar,
há, há, há.
Um gol camarada, um gol camarada,
um gol, um gol, um gol.
Um gol camarada, um gol camarada,
um gol, um gol, um gol.
Escravos de Jó,
jogavam caxangá,
tira, põe, deixa ficar,
guerreiros com guerreiros
fazem zig, zig, zag,
guerreiros com guerreiros
fazem zig, zig, zag.
Eu vi, eu vi,
passarinhos a voaire,
peixes do rio,
a tomar banho de maire.
Eu vi, eu vi,
passarinhos a voaire,
peixes do rio,
a tomar banho de maire.
Quim quim querum
“good-night” in querum,
quim quim querum
“good-night” in querum.
Quim quim querum
“good-night” in querum,
quim quim querum
“good-night” in querum.
Ó Nicodemo,
há, há, há, há,
Ó Gelaúba,
há, há, há, há.
Ó Nicodemo,
há, há, há, há,
Ó Gelaúba,
há, há, há, há.
Ó Nicodemo, Ó Gelaúba,
uba, uba, uba, uba,
uba, uba, uba, uba…
Pim, pim, pim
piririm, pim pim,
pim, pim, pim
piririm, pim, pão.
Pim, pim, pim
piririm, pim pim,
pim, pim, pim
piririm, pim, pão.
Universidade, universidade!
Olha o Gelaúba, uba, uba,
uba, uba, uba, uba, uba, uba.
(assobio longo) …PUM ! (3 vezes)
Universidade! (lento)
Antigos Alunos! (mais lento)
Amizade!!! (lentíssimo)
Música – Carlos Gomes
Letra – Bittencourt Sampaio
Segundo contam, Carlos Gomes em sua juventude morou em uma república na proximidade da Faculdade, convivendo com estudantes de Direito. A seu pedido, compôs a letra deste Hino que foi adotado como o Hino da Faculdade de Direito.
“Sois da Pátria a esperança fagueira,
Branca nuvem de um róseo porvir;
Do futuro levais a bandeira,
Hasteada na frente a sorrir.
Mocidade, eia avante, eia avante!
Que o Brasil sobre vós ergue a fé;
Este imenso colosso gigante
Trabalhai por erguê-lo de pé!
0 Brasil quer a luz da verdade,
E uma c’roa de louros também,
Só as leis que nos dêem liberdade,
Ao gigante das selvas convém!
Vossa estrela reluz radiante,
Oh! erguei-a vós todos, com fé,
Este imenso colosso gigante
Trabalhai por erguê-lo de pé!
É nas letras que a Pátria querida
Há de um dia, fulgente, se erguer,
Velha Europa, curvada e abatida,
Lá de longe que inveja há de ter!
Nós iremos marchando adiante,
Acenando o futuro com fé,
Este imenso colosso gigante
Trabalhai por erguê-lo de pé!
Orgulhoso o bretão lá dos mares
Respeitar-nos então há de vir,
São direitos sagrados os lares,
Nunca mais ousarão nos ferir.
Auriverde pendão fulgurante
Hasteai-o, mancebos, com fé!
Este imenso colosso gigante,
Trabalhai por erguê-lo de pé!
São imensos os rios que temos,
Nossos campos quão vastos que são!
As montanhas tão altas, que vemos,
De um futuro bem alto serão.
0 futuro não vai mui distante,
Já podeis acená-lo com fé,
Este imenso colosso gigante,
Trabalhai por erguê-lo de pé!
Nossos pais nos legaram guerreiros,
Honra a glória, virtude e saber;
Nós os filhos de pais brasileiros,
Pela Pátria devemos morrer!
Mocidade eia avante, eia avante!
Que o Brasil sobre vós ergue a fé!
Este imenso colosso gigante,
Trabalhai por erguê-lo de pé!”
Certa noite, chegando ao Ponto Chic ele disse: “hoje quero receitar um sanduíche que atenda à alimentação perfeita. Vou lançar aqui um sanduíche novo com hidrato de carbono (era o pão); gordura (era a manteiga que o pão recebia); proteína (era a carne, de preferência rosbife); fatias de queijo derretido e legumes (folha de alface e tomate)”. Acredito que depois o Ponto Chic foi colocando outros atrativos de acordo com a preferência dos clientes e o sanduíche ganhou a denominação de Bauru, porque era o que o Bauru lançou e ficou sendo o que todos pediam, pois tinha os bons componentes alimentares, por meio de vitaminas, sais minerais, etc.
A Trajetória de Casimiro
Em sua infância e juventude em Bauru (Casimiro nasceu em 5 de abril de 1914) brincou pelas ruas da velha Capital da Terra Branca e já na idade escolar estudou no São José e no Guedes de Azevedo durante três anos cursou o ginásio. Posteriormente, em São Paulo, terminou a fase do ensino secundário. Em 1931 prestou vestibular na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, formando-se em 1936.
Em 1932 participou do histórico movimento revolucionário, integrando o Batalhão 14 de julho da Faculdade de Direito. Antes mesmo de vestir a farda, escreveu em seu bibi (espécie de pequeno chapéu de pano feito pela sua mãe) o nome que sempre trazia no coração, Bauru. Daí nasceu o apelido pelo qual era conhecido.
Terminada a Revolução, formado, passou a exercer a advocacia e em 1938 ocupou o cargo de auxiliar de Gabinete do então secretário da Justiça, César Lacerda de Vergueiro. De 1939 a 1941 foi oficial de gabinete do governador Adhemar de Barros e em 1938 foi nomeado titular do Cartório de Paz da Vila Maria. Iniciou-se na vida radiofônica e por alguns anos foi o titular absoluto do famoso programa noticioso, Repórter Esso, que era transmitido em horários definidos, mas que podia a qualquer momento entrar no ar, desde que surgisse uma notícia importante e de interesse nacional.
Em 1945 passou a ser o diretor comercial da Rádio Panamericana, posteriormente diretor financeiro da TV Record, isto até 1981, quando então adoeceu, vindo a falecer.
O seu prematuro desaparecimento foi muito lamentado em São Paulo, pois era um nome de destaque no setor do rádio, da televisão e na vida social paulistana.
Em Bauru, seu nome foi perpetuado em um viaduto da rodovia Marechal Rondon, sobre a Avenida Nações Unidas.
Nota: Esta matéria foi extraída de ampla reportagem a respeito do AA Casimiro Pinto Neto, turma 1936, publicada no “Bauru Ilustrado”, suplemento mensal do Jornal da Cidade”, de Bauru.
Ao apagar das luzes da 6ª feira, 12 de Agosto, o recém-restaurado Pátio da Faculdade recebeu entusiástica platéia constituída de Alunos e Antigos Alunos, na expectativa de conhecer os vencedores do concurso de Novas Trovas Acadêmicas. Em boa hora, o certame foi organizado pelo Diretor da Faculdade, Profº. Eduardo Marchi. O júri, presidido pelo Profº. Fábio Nusdeo, estava composto pelo Profº. Otávio Pinto e Silva, Maestro Eduardo Fernandes, jornalista Antônio Augusto e Geraldo Vidigal Neto. Havia, também, um júri popular, a que se submeteram, assim como ao júri oficial, as 86 Trovas concorrentes. O primeiro lugar foi alcançado em ambos os Júris, pela aluna de pós-graduação Rita de Cássia Vieira Gomes, com as trovas:
“Tabuas de São Francisco
São tabuas de salvação;
Úteis, nas horas de sono;
Livros, na avaliação!!!“
Diego Billi Falcão (2º Ano Diurno – Impar) e Sérgio Tuthill Stanicia (1º Ano Diurno – Par), se classificaram em 2º e 3º lugar, respectivamente, no Júri Oficial. Já no Júri Popular, Mario Augusto D’Antônio Pires obteve o 2º lugar, seguido no 3º por autor não conhecido, de pseudônimo “sem noção”.
Grande Iniciativa. Parabéns.
Todos nos recordamos dos bons momentos vividos quando de nossa passagem pela Faculdade de Direito. Muitas lembranças do Largo, do Pátio, dos Corredores, mas também muitas recordações das salas de aula.
Avivando a memória, surgem nomes como os de João Mendes Junior, Barão de Ramalho, João Arruda, Conselheiro Crispiniano e Francisco Morato, grandes Professores das Arcadas, homenageados com seus nomes encimando a porta de entrada das 5 salas de Aula do Térreo da Faculdade. O que mais sabemos de cada um? O que deles sabem os alunos atuais? Pouca coisa.
Daí a inspirada iniciativa da Diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto, por seu Presidente gestão 2005 Fernando Borges Filho e o Diretor Rui Caminha, imediatamente encampada pela Diretoria da Faculdade e por nossa Associação, que assumiu parte das despesas.
Foram confeccionadas e inauguradas no último dia 30 de novembro, placas contendo breve biografia de cada um desses ilustres e saudosos Professores que, doravante, estão fixadas na entrada da respectiva sala de aula.
Breve completaremos essa iniciativa abrangendo as demais salas de aula dos outros andares.
Para conhecimento, replicamos a seguir o texto escolhido para cada placa.
Cartão – Francisco Antonio de Almeida Morato – Francisco Morato
Cartão – João Braz de Oliveira Arruda – João Arruda
Cartão – João Crispiniano Soares – Conselheiro Crispiniano
O estandarte da faculdade de direito
O atual estandarte da Faculdade de Direito foi solenemente inaugurado por ocasião dos festejos de 11 de agosto de 1904. As comemorações tiveram início com uma missa na Igreja de São Francisco, celebrada pelo Padre Dr. João Corrêa de Carvalho, ex-aluno, que, ao final, o abençoou.
Em seguida, já no Salão Nobre, na presença da Congregação e do Dr. Vicente Mamede de Freitas, Diretor Interino, ouviu-se o discurso do Dr. Manuel Clementino de Oliveira Escorel, lente catedrático, representando o Dr. José Joaquim Seabra, Ministro do Interior, escolhido para paraninfo do estandarte.
Ao final das comemorações, acadêmicos da Faculdade de Direito e estudantes de outras escolas saíram em passeata pelas ruas centrais da cidade, levando o novo estandarte, que ia ladeado pelos estandartes da Escola Politécnica, Escola de Farmácia, Escola Normal e Escola Prática de Comércio.
Foi por encomenda de Luiz de Campos Vergueiro e outros estudantes do Centro Acadêmico XI de Agosto que se confeccionou o estandarte nas oficinas da Casa Pio X, de Collazos & Companhia, fornecedora de paramentos e imagens religiosas, situada na rua Direita, n.40, em frente à Igreja de Santo Antônio (na quadra depois demolida para a abertura da praça do Patriarca). À véspera da solenidade, dia 10 de agosto, o estandarte ficou exposto na vitrine daquela loja.
Trata-se do terceiro estandarte da Faculdade de Direito, sendo que o anterior vigorou por cerca de trinta anos e faz parte, hoje, do acervo institucional.
Fontes: Correio Paulistano, ago. 1904 e Almanak Laemmert para 1910.
Esta nota que reproduzimos, foi objeto de pesquisa da historiadora de sucesso e Antiga Aluna, Heloisa Barbuy, Turma 1981, a quem agradecemos.
A reverência que devemos tributar a esse tradicional símbolo das Arcadas, ensejou a réplica que nossa Associação mandou confeccionar para adornar nossa Sede e cuja foto ilustra esta matéria.
A AAA tem entre seus principais objetivos, o permanente congraçamento e união dos Antigos Alunos através, inclusive e sobretudo, as reuniões de turmas.
Para tanto, coloca-se a disposição das comissões de Turmas para prestar os seguintes serviços, a título de colaboração, quais sejam:
A. CADASTRO– Buscar a atualização e enriquecimento dos dados dos AAs de cada turma, contando com a imprescindível participação dos próprios colegas.
B. COMUNICAÇÃO– Estabelecer comunicação ágil e eficaz com os AAs, divulgando e convocando para o programa de eventos comemorativos dos aniversários de turma, através de correspondência, e-mail, site e/ou Folha Dobrada.
C. ASSESSORIA NA REALIZAÇÃO DOS EVENTOS
C.1. Serviços religiosos: Reserva de missas na Igreja de São Francisco
C.2. Visita a Faculdade – Solicitação de data para visita e utilização das dependências da Faculdade.
C.3. Coquetel Informal – Negociação e reserva junto ao Restaurante Itamarati, para reunião de confraternização após a visita a Faculdade/Missa.
C.4. Jantar de Gala – Pesquisa e cotação de alternativas de Buffets e/ou Restaurantes, decoração, música, estacionamento, fotógrafo, etc, para a realização do grande evento comemorativo do aniversário de turma.
D. ARRECADAÇÃO, CONFECÇÃO E VENDA DE CONVITES: Centralização em conta corrente da Associação, da arrecadação da contribuição e pagamento de convites pelos AAs participantes das celebrações, com prestação de contas a comissão organizadora.
E. CUSTO– A AAA apenas repassará a comissão da Festa, os custos incorridos, não impondo qualquer ônus pela prestação de serviços acima.
Antonio Silvio Curiati
Turma 1985
Entrei no curso de graduação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP) em 1981. Como não poderia deixar de ser, no dia 11 de agosto daquele ano aderi à centenária tradição do pendura.
Em 11 de agosto de 1827 ocorreu a fundação dos cursos jurídicos no Brasil. Não se sabe exatamente a partir de quando, mas em algum momento os acadêmicos começaram a comemorar a data em restaurantes onde eram habitués, e na hora de pagar a conta exercitavam seus pendores oratórios, agradecendo à direção da casa em alto e bom som pelo convite na verdade inexistente, com o que granjeavam a simpatia e o aplauso dos demais freqüentadores.
Vamos recapitular em que contexto surgiu tudo isso: tratava-se ainda de uma São Paulo pequena, em que todos se conheciam. Havia apenas uma faculdade de Direito na cidade, e somente duas no país, com poucos alunos; é claro que os estudantes detinham muito prestígio. E eles efetivamente freqüentavam por todo o ano o restaurante eleito, já eram da casa, não estavam ali somente para essa ocasião. Em condições tais, eram acolhidos com alegria e a conta pendurada, até porque era uma forma de a direção exibir sua generosidade perante os demais fregueses, em um tímido arremedo do que viria a ser conhecido no futuro como marketing institucional.
Esse que descrevi é o hoje chamado pendura tradicional, que se manteve quase inalterado. Com o tempo e a mudança das circunstâncias, a criatividade estudantil agregou mais duas modalidades ao pendura: o selvagem, em que o estudante come e sai correndo, e o diplomático, em que o evento é marcado com antecedência, respeitadas as condições oferecidas pelo restaurante. Em qualquer das três formas sempre se paga o valor da gorjeta e se apresenta o ofício de agradecimento do Centro Acadêmico XI de Agosto.
Bem, o chavão é batido, mas o primeiro pendura a gente nunca esquece! Então, naquele 11 de agosto de 1981, juntei-me a dois colegas e, muito bem vestidos, fomos jantar no saudoso Maria Fulô, na avenida Rebouças, especializado em comida baiana. Fazia muito frio e a casa estava vazia. Servimo-nos da excelente comida no buffet, inclusive de sobremesa, bebemos água e refrigerantes, e pedimos a conta sentindo um certo frisson. Colocamos a gorjeta junto do ofício e entregamos ao garçom, dizendo tratar-se de um pendura. Praticamente não havia público para o discurso de agradecimento. Em poucos minutos estava ali o gerente, e começamos a argumentar, até que sem muita dificuldade ele cedeu, talvez porque não consumíramos nenhum prato a la carte ou bebidas alcoólicas. Despedimo-nos e ele nos deixou um agouro, sabendo muito bem o que dizia:
– Só espero que a comida não lhes faça mal…
No dia seguinte, já estávamos alegremente compartilhando a história da nossa façanha na faculdade. Perto da hora do almoço, um colega perguntou-me se não gostaria de substituí-lo em um diplomático para cinco pessoas no The London Tavern do Hilton Hotel. É claro que aceitei! Mal comecei a provar o antepasto, senti uma cólica fortíssima e saí apressado em busca de um banheiro, que para minha sorte estava bem limpo: o presságio da véspera se cumprira com uma boa diarreia. O que a princípio parecera o resultado de uma imprecação ruim nada mais era que o conhecimento dos previsíveis efeitos do azeite de dendê em organismos não habituados…
Nos anos que se seguiram ia aos penduras cada vez mais desenvolto, mas eram sempre tradicionais ou diplomáticos, pois nunca apreciei o modus operandi do tipo selvagem. Em meio a tantos, houve alguns que recordo com bastante nitidez.
No terceiro ano do curso, no início de agosto fui com dois colegas à rua Amauri para marcar alguns diplomáticos. Entramos no Entrecôte, um local agradabilíssimo, e acabamos por falar com o proprietário, que foi muito receptivo:
– O que posso lhes oferecer é um convite para seis pessoas, com entrada, uma carne, vinho e sobremesa.
Ele falava como se estivesse nos fazendo uma oferta indelicada, como se fosse pouco, aparentemente sem se dar conta de como já era difícil, àquela altura, conseguir marcar um pendura. Na data combinada ali estávamos os seis apreciando a comida excepcional. Para nossa surpresa, ele monitorou nossa mesa pessoalmente, cuidando para que tudo estivesse perfeito. Não bastasse isso, ainda vinha à mesa e nos dizia:
– Vocês são acadêmicos. Eu sou um mero dono de restaurante. Eu nasci para servi-los!
Ele definitivamente sabia como inflar um ego: voltamos diversas vezes e em pouco tempo amortizamos o seu investimento.
Alguns dias depois, graças ao contato de alguém da turma com a família de José Víctor Oliva, conseguimos um diplomático para jantar no Gallery em quatro casais. Fomos em dois casais no DKW de um colega, envoltos em todo o ruído e fumaça que um motor de dois tempos é capaz de fazer. Para disfarçar o constrangimento por uma chegada tão indiscreta, enquanto descia do carro uma das colegas dizia em voz alta, a quem quisesse ouvir e com uma expressão de afetada irritação:
– Ah, esses milionários excêntricos…
Foi uma noite memorável: iniciou-se no bar e seguiu-se um jantar irrepreensível, com direito a dançar ao som de um impecável clone de Frank Sinatra.
Ainda em agosto de 1983, por volta do dia onze, fui marcar um diplomático no Rodeio. Entreguei o ofício ao sempre solícito maitre Ramon Mosquera Lopez, que se desculpou diante da impossibilidade de aceitá-lo, pois a casa já havia recebido um número expressivo de pedidos. Mesmo assim ele disse:
– Vamos fazer uma coisa: você me liga no dia do seu aniversário e vem almoçar aqui.
Foi difícil explicar a ele que eu faria aniversário dali a alguns dias, mais precisamente em 22 de agosto, quando os alunos da PUC estão no auge dos seus penduras! Mas ele cumpriu a palavra, como é natural a pessoas íntegras, e almocei no Rodeio.
Em outra ocasião fomos em dois casais a um dos restaurantes do Piero para um pendura tradicional. Como ele abria tantas casas, e sempre com sucesso, agora não me recordo o nome ou a localização exata. Comemos e bebemos muito bem – sem abusar, como sempre – e na hora da conta apresentamos o ofício e a gorjeta. Vejo como se fosse hoje a calorosa acolhida do Piero: expressões faciais e gesticulação simulando desespero, como se não aguentasse mais receber outro pendura… Pois ele ainda veio à nossa mesa para agradecer por termos escolhido o seu restaurante para o nosso pendura! Eis aí alguém que consegue pensar em longo prazo, um verdadeiro empresário e não um simples comerciante, alguém que sabe transformar fregueses em clientes. Já perdi a conta das vezes em que voltei a uma de suas casas!
Lembro-me também de penduras no Au Liban, Bongiovanni, Brasilton Dinho´s, La Tambouille, Massimo, Nelore, Othon, Ouro Velho e Piroska. Em todos fomos muito bem recebidos.
No entanto, nem tudo eram flores. Muitas vezes em que fui conversar com gerentes para marcar um diplomático, fui solicitado a aguardá-los na cozinha. E cheguei a ver cada coisa! Nem sempre a essência correspondia à aparência… Melhor se não tivesse visto. Afinal, o que os olhos não vêem…
Entendo perfeitamente a aflição que enfrentam hoje os donos de restaurante, quase duas décadas depois, quando se aproxima o mês de agosto. Senão, vejamos: a tradição, que a princípio se restringia à Faculdade do Largo de São Francisco, foi sendo adotada pelas outras faculdades de Direito. Ao mesmo tempo, essas começaram a proliferar mais que chuchu na serra, exponencialmente.
Apenas como exemplo, em 1986 o número de inscrição definitiva na OAB-SP girava em torno de 85.000. Em 2003 já passava de 200.000! Considerando que nem todos os bacharéis prestam exame na OAB e que entre os que prestam o índice de aprovação deve estar em torno de trinta por cento, pode-se ter uma ideia do astronômico contingente de estudantes de Direito a caçar restaurantes para o pendura.
Também houve nesses quase vinte anos uma impiedosa e brutal compressão do poder aquisitivo geral, reduzindo drasticamente as margens de lucro em todo tipo de negócios. Exceto, é claro, as margens de nosso sócio compulsório, o governo, que nunca deixam de crescer. Aliás, seus recordes de arrecadação só perdem para os de omissão…
Por fim, a postura dos estudantes em relação à tradição foi-se dissociando de qualquer parâmetro e o pendura perdeu o glamour. Neste ponto preciso fazer um mea culpa, pois muito do que menciono a seguir já se praticava em minha época.
O pendura deveria restringir-se ao dia 11 de agosto; hoje já se prolonga por praticamente todo o mês. O espírito da tradição nunca visou lesar o restaurante, mas confraternizar e usufruir da hospitalidade de uma casa da qual se é cliente habitual; hoje se procura para o pendura exatamente os restaurantes que não se frequenta em condições normais. Na hora de fazer o pedido, a moderação é esquecida e pede-se o que há de mais caro, e não o que se comeria espontaneamente; afinal, gastar o dinheiro dos outros é uma delícia…
Falando em gastar o dinheiro alheio, o pendura tradicional mais ousado de que tive conhecimento enquanto frequentei a faculdade aconteceu no restaurante Cousine du Soleil do hotel Maksoud Plaza, por obra de alguns formandos da turma de 1983, tendo sido noticiado em horário nobre e em cadeia nacional. Eles simplesmente marcaram uma festa de casamento para o dia 11 de agosto! E a noiva, o noivo, os padrinhos et al eram todos acadêmicos!
Conforme reportou-me a “noiva”, ainda recentemente, houve lances ousados de ambas as partes. A uma certa altura, o maitre desconfiou e interpelou o “noivo”, que por estar retornando há pouco do exterior portava muitos dólares na carteira e os exibiu, alegando trazer numerário para pagamento à vista, pois se passara pelo filho de um rico fazendeiro do Matogrosso. Depois que o pendura já havia sido declarado, ao final de uma lauta refeição regada a bem escolhidos vinhos da safra de 1962 e de custo atualizado equivalente ao de um Passat alemão, o maitre foi prolongando a discussão até que todos os demais clientes saíssem, e os garçons fecharam as portas. Quando os estudantes perceberam, estavam trancados. A “brincadeira” só não terminou na polícia devido à presença de espírito de um dos acadêmicos, que alegando ir ao banheiro ligou de um telefone público nas dependências do próprio restaurante (nessa época ainda não havia no Brasil o telefone celular) para a imprensa e para a portaria do hotel, então fazendo-se passar pelo delegado do 4º DP e intimando o maitre a soltar os estudantes imediatamente, sob pena de configurar-se cárcere privado, e a comparecer ao distrito para registrar a ocorrência.
Esses foram longe…
São Paulo, em abril de 2004.