Ao coração do poeta

Para homenagear o poeta que declarou seu amor às Arcadas, a Associação dos Antigos Alunos realizou, em dezembro de 2002, uma comemoração em sua sede e entregou a Paulo Bomfim um singelo reconhecimento ao trabalho e à dedicação que ele sempre dispensou à Faculdade. “Foi uma das homenagens mais tocantes que recebi em minha vida. A Associação dos Antigos Alunos é a guardiã das mais nobres tradições acadêmicas. Recebo dessa entidade, que congrega muitos sonhos e alguns cabelos brancos, essa homenagem que fala diretamente ao coração do poeta”, disse.
        Paulo Bomfim iniciou o curso na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, mas não chegou a completá-lo. Na época (por volta de 1946) trabalhava como colaborador dos jornais Correio Paulistano, Diário de São Paulo e Diário de Notícias. Em 1946 ocorreu a publicação de seu primeiro livro de poesia, Antônio Triste, com o qual recebeu o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1947.
        No ano seguinte ele participou do Primeiro Congresso Paulista de Poesia. Entre 1971 e 1973 foi curador da Fundação Padre Anchieta, diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo e representante do Brasil nas comemorações do cinquentenário da Semana de Arte Moderna, em Portugal. Recebeu vários prêmios, entre eles o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, em 1982, concedido pela União Brasileira de Escritores.
        Em 2000 e 2001 publicou os livros de contos e crônicas Aquele Menino e O Caminheiro. Sua extensa obra poética inclui Relógio de Sol (1952), Armorial (1956), Tempo Reverso (1964), Calendário (1968), Praia de Sonetos (1981) e Súdito da Noite (1992).

O poeta fala das Arcadas

Sempre que me sinto triste e desmotivado vou até o Largo de São Francisco recarregar minhas baterias espirituais. A Faculdade é o ponto de referência de minha mocidade e dos sonhos que continuo sonhando. Toda vez que o Brasil se distancia dos ensinamentos das Arcadas entra na atmosfera das turbulências. A Faculdade deu a primeira lição de democracia que se iniciou na convivência nas repúblicas de estudantes, chegou às cátedras e atingiu a alma da Nação.
        Nas repúblicas, estudantes originários dos mais diversos pontos da geografia brasileira formam uma fraternidade que daria Presidentes da República, jurisconsultos, poetas e estadistas. A sacralidade do Largo de São Francisco está num território que é livre, no dizer de Adriano Marrey, em 1928, e que se transfigura na própria liberdade.
        E a bandeira dessa liberdade é o pavilhão do XI de Agosto empunhado pela paixão e pelo idealismo dos moços durante um século. O XI de Agosto é o Centro de São Paulo, coração das Arcadas, memória de um povo, tradição e esperança que marcham cantando ‘quando se sente bater no peito heroica pancada, deixa-se a Folha Dobrada enquanto se vai morrer'”.

Creio em ti ó Faculdade!


        Poesia declamada pelo autor na solenidade de encerramento das comemorações do sesquicentenário de fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil, em 11 de agosto de 1977, no Salão Nobre da Faculdade.

Paulo Bomfim
Da Academia Paulista de Letras


  • Creio em ti ó Faculdade,
    Meu amor de juventude,
    Meu sonho de liberdade!
    Creio na terra que piso,
    Nas auroras deste pátio,
    No passado tão presente,
    Nas arcadas de triunfo,
    Nas paredes que são gritos,
    Nos silêncios que são vozes
    Dos mortos que não morreram!
    Eu creio na Faculdade,
    Milagre de São Francisco
    Transformando em esperança,
    Em direito, amor e paz,
    As pedras de meu santuário;
    Creio no largo que alarga
    Os horizontes do medo,
    Nas raízes que alimentam
    As flores de nossa Fé,
    Nas escadas conduzindo
    Os passos de novos dias;
    Eu creio na Faculdade,
    Bandeira que vai passando
    De alma em alma pelo tempo,
    E chega na eternidade!
    Nas glórias de um território
    Que é estado de justiça
    E país da liberdade.
    Creio uma crença solar
    Que se renova e que cresce
    Num altar de escadarias,
    De salas e corredores;
    Crença antiga que é tão jovem,
    Faculdade, lar e templo,
    Tribuna, trincheira e bênção,
    Página viva da História!
    E porque creio em São Paulo,
    Nos ideais de São Francisco,
    Na vocação de justiça,
    (Religião e liberdade),
    Creio na crença sagrada,
    Creio em ti ó Faculdade,
    Creio em vós ó mocidade!

Trovas Acadêmicas de Sesquicentenário


        Trovas compostas especialmente para a comemoração do sesquicentenário da fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil, e cantadas pelo Coral XI de Agosto na solenidade de 11 de agosto de 1977.

Paulo Bomfim
Da Academia Paulista de Letras


  • O tempo que vai passando
    Não passa na Faculdade,
    Aqui sempre nos sentimos
    Com vinte anos de idade!
  • Coloco nestas Arcadas
    As cordas do meu violão,
    O vento inventa a poesia
    E o pátio vira canção!
  • O território que eu amo,
    É o coração da cidade;
    É livre como a esperança
    E bom como a mocidade!
  • Quem entra na São Francisco
    Tem mais amor à verdade,
    Pois leva sempre no peito
    A chama da liberdade!
  • Passou-se um século e meio
    Cobriu-se o Largo de glória,
    E a História da Faculdade
    É a faculdade da História!
  • Memórias da São Francisco
    Que eu canto com emoção,
    Em cada canto do Largo
    Eu largo meu coração!