Brasília Homenageia Goffredo

Assim como havia ocorrido em São Paulo, na Semana Comemorativa do XI de Agosto 2016, a Capital Federal foi palco do lançamento do livro em homenagem ao Professor Emérito Goffredo da Silva Telles Junior, contendo 12 textos inéditos:

Local, a residência do casal Daniela / Miguel Matos. ele diretor fundador do Migalhas. Sucesso como não poderia ser diferente. Ademais, de forma inusitada, o evento foi abrilhantado pela apresentação de nossos Jograis, capitaneados pelo talentoso colega Vadim da Costa Arsky (Presidente do capitulo Brasília da Associação dos Antigos Alunos), autor do criativo libreto que em anexo reproduzimos, para gaudio de nossos colegas antigos alunos.

Antes, entre tantas presenças ilustres, registramos as dos colegas Ministros José Antônio Dias Toffoli e Ricardo Villas Boas Cueva e, o destacado advogado Luiz Carlos Bettiol, nosso Associado Mantenedor.

Para as que não estiveram presentes, mesmo sem a performance, vale a pena conhecer o inspirado texto do nosso Vadim da Costa Arsky.

Aprecie.

“12 TRABALHOS – CAMINHOS DO BRASIL”

O PROFESSOR E OS PRESIDENTES

Jogral acadêmico focando diálogo entre um professor da Faculdade de Direito e quatro antigos alunos eleitos presidentes da República ante a posse de outro,:

Narradora – Heloisa Mendonça. Goffredo – Miguel Mattos. Prudente de Morais – Vadim da Costa Arsky.: Campos Sales – Ricardo Duarte, Rodrigues Alves – Rafael Prince e, Afonso Pena – Rafael Romanoff.

NARRADORA

Meia noite na cidade de São Paulo.

A metrópole ruidosa baixa sua trepidante respiração e os poucos transeuntes que cruzam o Largo de São Francisco, fazem-no lentamente, admirando a lua cheia que esparrama sua claridade sobre as arcadas do prédio da Faculdade de Direito.

Lá dentro, a suave luz envolvente desce sobre o pátio interno da faculdade iluminando o busto do soldado de 32 que parece saborear a claridade amena como tranquila mensagem de ordem constitucional.

Lentamente, um vulto surge das sombras, caminhando diretamente para o busto iluminado que repousa sobre a frase de Tobias Barreto:

“Quando se sente bater no peito heroica pancada, deixa-se à folha dobrada enquanto se vai morrer” …

GOFFREDO – (Falando alto para os céus)

Oh! Meus alunos, que deixam a folha de sua existência dobrada para que seus irmãos possam ler seu livro da vida até a última página.

Oh! Queridos alunos desta casa que colocam todo o saber aqui colhido a serviço da família e da sociedade e alguns até no mais alto cargo da República!

Se pudesse, gostaria de saber como estes se houveram em seus misteres.

Foram fiéis aos princípios do direito? Observaram a ética? Elevaram a moral do povo? Que legado deixaram?

PRUDENTE DE MORAIS
O que desejais saber, professor?

CORINHO – canta trova do Prudente

O Antigo Aluno Prudente
Que foi do Brasil bom piloto (bis)
Primeiro civil presidente
Depois do caudilho Peixoto (bis)

GOFFREDO

Ah! Que ventura a minha
Pois eis que chega, ao repente
O antigo Aluno Prudente
Que foi realmente o primeiro
A ser o civil presidente
Deste povo brasileiro,

Poderia nos falar
Dos feitos do seu mandato?
Que foste leal e cordato
Isso nós todos sabemos.
Mas diga: qual foi o ato
Que lhe fez mais orgulhoso
Que lhe deu mais alegria
E o que isso teve a ver
Com o aluno estudioso
Desta velha academia?

PRUDENTE DE MORAIS

Aqui nesta casa eu via
O empenho e a porfia
De todos a um só ideal:
O de escolher, com cuidado,
O direito a ser aplicado
Na busca da paz social.

Tive percalços enormes!
E foi muita extensa a lista.
Começando com as desordens
No Rio Grande do Sul,
Não bastava pulso forte
Para unir do Sul ao Norte
A dissidência da Grei!
Mas, agindo com a prudência
Que o meu nome exigia
Acabei com a anarquia,
Fiz a paz e anistiei,

Voltando-me ao Exterior,
Senti que a coisa ia mal:
Rompidos com Portugal,
Os ingleses, com maldade
Queriam a ilha Trindade
Mais os juros dos banqueiros.
A França invadindo o Amapá
Vindo da Guiana Francesa.
E, depois de me aplicar
A resolver isso tudo,
Inda tive que enfrentar
A Revolta dos Canudos!

Mas não fiz isso sozinho
Tive a ajuda de colegas.

Um deles, calouro meu:
José Maria Paranhos
Que, por motivos estranhos
Se transferiu para Olinda.
E ainda fui ajudado
Por outro aluno aplicado
Desta escola, que é uma lenda:
O Jovem Rodrigues Alves
Meu Ministro da Fazenda.

Assim creio, professor,
Ter seguido com rigor
O bom exemplo que via
Nesta douta Academia.

GOFFREDO

Muito bom! Caro Prudente.
Deixaste-me bem contente
Com teu relato vibrante
Dos atos edificantes
Tomados no teu Governo.
Mas vamos seguir adiante
Ouvindo outro presidente.
Vejamos se a Nova República
Foi sanada dos seus males,
Diga então o que fizestes
Para isso Campos Sales

CORINHO – trova de CAMPOS SALES

Manuel de Campos Sales
Saiu das Arcadas doutor (bis)
E ao se tornar presidente
Foi grande administrador (bis)

CAMPOS SALES

Entendi dever consagrar
O ato de governar
Na posição altaneira,
Acima das ordinárias
E vis paixões partidárias,
Sustento de bandalheiras.

O país a se esgotar
Em conchavos deslavados
Os partidos mergulhados
Em negociatas tétricas
Não há presidente que aceite
Por isso minha politica
Que recebeu muita crítica
Foi a do “café com leite”

Como sói acontecer
Tive muitos detratores
Dizendo que meu governo
Era dos governadores.

Mas, logo eu lhes fiz ver
Que eles estavam enganados,
Quando viram fortalecer
A autonomia dos Estados,
Estendendo a independência
Conquistada a braço forte
A todos os brasileiros
Unidos do Sal ao Norte.

Combati a inflação
Não emiti mais dinheiro
Sem tirar o ganha pão
Dos ardilosos banqueiros.
Valorizei a moeda
Valorizei a poupança
Valorizei o trabalho
Eliminei a gastança
Enfim, caro professor,
Acreditei no valor

Do Homem e de sua ação,
Quando estribado na lei.
E não quando brota das manhãs
Das mutretas e barganhas,
Mas quando, com emoção
Desponta do coração.

Aprendi em sua escola
E não esquecia lição.

GOFFREDO

Ouvi com muita alegria
Os atos de fidalguia

E boa administração,
Sinto-me recompensado
Por haver me dedicado
Ao sagrado magistério
E mais, por ter lecionado
A jovens com predicados
Tão puros e tão austeros.

Mas temos mais um presidente
Oriundo da academia
E que, para orgulho da gente
Mostrou tudo o que sabia.

Revele a sua epopeia
E dela nada ressalves
Mostre toda a sua ideia.
Meu jovem Rodrigues Alves

CORINHO

Rodrigues Alves, viril,
Antigo Aluno de fé (bis)
Enriqueceu o Brasil
Vendendo borracha e café (bis)

RODRIGUES ALVES

Antes de tudo, confesso
Que falo com grande saudade
Do quanto aprendi nesta casa
E também nesta cidade.
Antes de ser presidente
Governei o grande Estado
Da velha Piratininga,
O que foi um doce fado
Que deu vida à minha vida
E mostrou que governar
É servir à minha gente.
Assim quando presidente
Cuidei logo das finanças
Aproveitando as bonanças
Da borracha e do café
Para aplicar em saúde
Tornando obrigatória
A vacinação em massa

À cuja glória fez jus
O doutor Oswaldo Cruz.

Para evitar um massacre
Anexei, por lei, o Acre
Em acordo com a Bolívia,
Mantendo a extração ativa
Da borracha amazonense,
Vitória que não me pertence
Não é modéstia, sou franco.
Valeu-me o Rio Branco
Colega de Academia.

E foram tantos os nomes
Que deram à minha empreitada
Valiosa colaboração
Que a lista seria enorme.
Mas quero deixar marcados
Aqueles mais destacados,
Unidos à confraria
Fundada por Julius Frank:
Ruy Barbosa, Castro Alves
Afonso Pena e companhia
Os quais honraram o juramento
De servir com todo alento
O espírito da Academia.

GOFFREDO

Empolga-me o coração
Ao sentir tanta emoção
Com seu relato fiel.
E pensar que essa grandeza
Cheia de amor e beleza
Vem de um nosso bacharel.

Mas quero por derradeiro
Ouvir o que fez o mineiro
Afonso Moreira Pena.

CORINHO – Canta trova de Afonso Pena

Afonso Pena mineiro
Facilitou as andanças (bis)
Criou estradas de ferro
E sancou as finanças (bis)

AFONSO PENA

Devo avisar com antecedência
Que ao assumir a Presidência
Enviei ao meu colega
Ruy Barbosa de Oliveira

Uma carta declarando
Como iria enfrentar
O mister de governar
Este País se ampliando.

Escrevi:

“Na distribuição das pastas
Não me preocupei com a política,
Pois essa direção me cabe,

Segundo as boas normas do regime.
Os ministros executarão meu pensamento.
Quem faz a política sou eu.”

Seguindo essa diretriz
Procurei dar ao país
O que de mais necessário
Para sua evolução.
E contemplando o cenário
Das terras despovoadas
Vi que era necessário
Incentivar a imigração.

E para que à nova gente
Pudesse então prosperar
Implantei as ferrovias
Como elo de união
Feito, não só pelo chão
Mas ainda pelo ar
Ligando a Amazônia ao Rio
Com o telégrafo sem fio.

Modernizei o exército
E também nossa marinha
Pois não é com ladainha
Que se defende o país.
Adotei o padrão ouro
Modernizei o tesouro.
E muito mais coisa fiz.

E assim como presidente
Levei o Brasil em frente
Com muita paz e harmonia
Tendo sempre em minha mente
Os princípios do direito
Apreendidos com respeito
Nos bancos da Academia

GOFFREDO

Enche-me o peito uma alegria imensa
Ao ver a minha fé concretizada!
O sonho é tudo. A vida, quase nada,
Resume-se naquilo que se pensa. 

E o pensamento desta faculdade
Viaja incólume através dos tempos
Como se vê dos dignos exemplos
Apresentados com fidelidade. 

Lembro-me então do dia em que falei
Justo neste pátio sóbrio e altaneiro
Endereçando a carta aos brasileiros
Que novamente agora então lerei 

“Nossa fidelidade de hoje aos princípios basilares da Democracia é a mesma que sempre existiu à sombra das; Arcadas: fidelidade indefectível e operante, que escreveu; as Páginas da Liberdade, na História do Brasil. 

Estamos certos de que esta Carta exprime o pensamento comum de nossa imensa e poderosa Família – da Família formada, durante um século e meio, na Academia do Largo de São Francisco, na Faculdade de Direito de Olinda Recife, e nas outras grandes Faculdades de Direito do Brasil – Família indestrutível, espalhada por todos os rincões da Pátria, e da qual já saíram, na vigência de Constituições democráticas, dezessete Presidentes da República, “ dos quais quatro deles acabam de nos dar seu testemunho que certamente servirão de norte para o novel presidente, Antigo Aluno da Faculdade Michel Temer, cumprir com honradez e sabedoria o seu mandato”.

TODOS
PRESIDENTE MICHEL TEMER
RECEBA COM SIMPATIA
O CANTO DA FACULDADE
NAS TROVAS DA ACADEMIA.

CANTO DAS TROVAS POR TODOS
FINALIZANDO APRESENTAÇÃO.

Quando se sente bater
No peito heroica pancada
Deixa-se à folha dobrada
Enquanto se vai morrer

Eu vi o rio chorando
Quando te foste banhar…
Chorava a pobre regato
Por não poder te levar!
Quando saí lá de casa,
Meu pai me aconselhou
– Meu filho, nunca se case,
Seu pai nunca se casou…

Não sei se é fato ou se é fita,
Não sei se é fita ou se é fato,
O fato é que ela me fita
Me fita mesmo de fato

Parece mentira, parece,
Mas é verdade patente,
Que a gente nunca se esquece
De quem se esquece da gente…

A moça que eu namoro
E que me quer muito bem,
Tem um sorriso que encanta,
Quinhentos contos também…

Estava na beira da praia
Comendo amendoim
Veio o Ataliba e me disse
O Estado é meio e não fim
Os homens são uns diabos
Não há mulher que o negue
Mas todas elas procuram
Um diabo que as carregue
A moça disse pra outra,
Com esse eu não me arrisco,
Pois ele estuda Direito,
No Largo de São Francisco

Onde é que mora à amizade,
Onde é que mora à alegria. (bis)
No Largo de São Francisca,
Na velha Academia
(bis ralentando)

NO LARGO DE SÃO FRANCISCO
(grandioso)

NA VELHA ACADEMIA!
Brasília 31 de agosto de 2016

Vadim da Costa Arsky (SANFRAN -1960)