Dalmo de Abreu Dallari – Cidadão Paulistano

A Câmara Municipal de São Paulo engalanou-se na belíssima manhã de 12 de agosto de 2005, para atribuir, mercê da feliz e meritória iniciativa do Vereador e Antigo Aluno, Paulo Teixeira, a mais alta de suas condecorações – a Cidadania Paulistana – ao grande Professor Dalmo de Abreu Dallari.

 Os presentes que lotaram o Salão Nobre da Câmara, compunham uma mescla representativa dos mais variados segmentos da sociedade paulista, todos admiradores e que ali compareceram para render suas homenagens ao querido Professor.

À mesa, presidida pelo Vereador Paulo Teixeira, sentaram-se, entre outros, o Senador Eduardo Matarazzo Suplicy, o Secretário dos Negócios Jurídicos do Município, Luís Eduardo Guimarães Marrey, o Presidente de Honra da Associação, Ministro Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, além do Presidente da Associação, José Carlos Madia de Souza. A cada um coube a honra de saudar o ilustre Professor e novo Cidadão Paulistano. Depois, a emoção cresceu com as palavras de um dos sete filhos do Professor, o também Professor e Antigo Aluno de nossa Faculdade, Pedro Dallari, que falou pela família, ali presente: filhas e filhos, noras e genros, netos e netas. Calou fundo a história do grande homem visto do prisma familiar. A viuvez prematura. A luta para conciliar a criação dos 7 filhos, a profissão de advogado, de professor, de homem público e de defensor do Direito e das Liberdades. Paulo Teixeira, autor da proposta de concessão do título fez uma retrospectiva da vida pública e da contribuição inestimável que o Professor Dalmo trouxe à cidade de São Paulo, apenas para não se estender aos âmbitos do Estado de São Paulo e do Brasil. E não foi além para poder se concentrar nas principais ações do Prof. Dalmo. A seguir fez a entrega do título de Cidadão Paulistano ao Profº. Dalmo de Abreu Dallari.

O agradecimento do novo Paulistano foi igualmente tocante, começando por se reportar ao seu Nono Dallari, sapateiro que veio da Itália para tentar a vida em Serra Negra. Lembrou de seus pais, Áurea e Bruno, que decidiram mudar para São Paulo em 1947, dando oportunidade para que os filhos pudessem estudar, se desenvolver e abrir seus horizontes. Depois, deu uma verdadeira aula a respeito do título que orgulhosamente recebia, a Cidadania. Retrocedeu às primeiras definições de Sólon, que todos os cidadãos são guardiões da Lei. Mencionou que os romanos criaram o hábito de conceder a cidadania aos povos conquistados, como forma de integrá-los, embora com restrições em relação aos próprios cidadãos romanos. Só num segundo momento essas restrições foram paulatinamente retiradas. E daí foi o Professor Dalmo fazendo um apanhado histórico das diversas evoluções que, o conceito de Cidadania sofreu, até chegar aos nossos dias. Receber a Cidadania significa ser acolhido. Contudo, lembra o mestre, o processo de migração cada vez mais intenso no presente, apresenta muitas dificuldades de integração aos que chegam, muitas vezes acabando por se congregar em núcleos apartados, pequenos guetos, defendendo-se da desconfiança e até do ódio. Esses têm a cidadania, mas é como se não a tivessem. Quanto mais desenvolvido o País que os recebe, menos os acolhe no sentido verdadeiro da cidadania. Mesmo no momento em que a cidade de São Paulo o acolhe simbolicamente com sua cidadania, O Profº. Dalmo não esquece de seus irmãos que não a tem. Essa a tônica de sua vida, que descreveu em sucintas linhas. O apreço ao estudo foi desenvolvido nesta cidade. Na Biblioteca Municipal, assíduo frequentador, usou ao limite suas facilidades, devorando até 4 livros no prazo-limite de 15 dias. Como estagiário em um escritório na Praça da Sé, assistiu e se sensibilizou pela forma violenta que a polícia reprimia pacíficos manifestantes, trabalhadores que propugnavam por seus Direitos. Enveredou pela política, filiando-se ao hoje extinto Partido Libertador, tendo concorrido a uma cadeira de Vereador nessa Câmara Municipal, lamentavelmente tornando-se suplente sem oportunidade de assumir. Na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, alcançou a Livre-Docência em Teoria Geral do Estado. Por 10 anos foi presidente da Comissão de Justiça e Paz, com intensa e bem-sucedida atuação, a despeito de todos os entraves decorrentes do regime autoritário então vigente. Ainda na Faculdade, galgou todos os demais degraus até assumir sua Diretoria, em cuja gestão, dentre outras realizações, destacou a construção do Edifício Anexo que hoje abriga os Cursos de Pós-Graduação e até a sede da Associação dos Antigos Alunos. Finalizou referindo-se a toda a família ali reunida, seu orgulho e amor por todos e, em especial, uma referência carinhosa a sua segunda esposa, Dr.ª Irene.

Ovacionado e emocionado, o Professor agradeceu com sua habitual simplicidade. As Arcadas também agradecem, comovidas, a merecida homenagem a um de seus mais destacados e queridos Professores.