EXAME ORAL

Os fatos são verdadeiros, os personagens também. São dessas coisas que a gente nunca esquece. Terceiro ano do curso de bacharelado, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, exame oral de Direito Civil. O austero professor, do alto de sua cátedra, ditava a sorte de seus alunos.
O estudante nessa hora se sentia diminuído, pequeno, subjugado, indefeso, olhando de baixo para cima e precisando desesperadamente de nota, pois quem não fechasse a média com as provas escritas tinha a última chance no exame oral.
É claro que em determinadas circunstâncias poderia, ainda, ter a oportunidade de uma segunda época e, nessa hipótese, lá se iam as férias.
A jovem aluna, ao ser chamada, logo despertou a atenção de todos naquele decote ousado e na corrente pendurada no pescoço ostentando um belíssimo Crucifixo de ouro.
Calmamente sorteou o ponto e foi para o purgatório.
Para quem não sabe, chamávamos de purgatório e cadeira onde ficava sentado o aluno enquanto o outro era examinado. A sorte estava lançada, o ponto sorteado já era conhecido e o aluno, aguardando a sua vez, procurava, mentalmente, concentrar-se na questão.
O ideal, para prestar o exame oral, era falar sem dar ao mestre a oportunidade de fazer muitas perguntas.
Mas, voltemos à graciosa aluna, ao seu adereço e ao seu generoso decote para imaginar o belíssimo panorama descortinado, pelo professor, lá de cima, do alto de sua cátedra, demorando-se nas perguntas ao aluno que estava sendo examinado a fim de avaliar os seus conhecimentos. Muito pouca atenção, por certo, estaria ele merecendo, por isso que, na aluna, estavam voltados os seus olhos.
Concluída a fala do examinando, dada a nota suficiente para aprovação, chegou a vez da nossa colega que impaciente e nervosa aguardava.
Solidariedade, silêncio total, pois, se necessário alguém poderia soprar.
O Professor, inclinando-se e esticando o pescoço, fez à aluna a sua primeira pergunta sem tirar os olhos do belíssimo e jovem colo de uma garota que nem chegara aos vinte anos:
– O que é isso que a senhora tem aí?
Mesmo ruborizada, pois perceberá claramente que o professor lá de cima via nitidamente os seus seios, indagou candidamente, mas com muita malícia:

– O que professor, a Cruz ou o Calvário?