PROF. JOSÉ BONIFÁCIO, O MOÇO

O furto da estátua narrado por Lauro Malheiros, turma 1935

 

José Bonifácio de Andrade e Silva (conhecido como JOSÉ BONIFÁCIO, O MOÇO) nasceu em Bordeus no ano de nossa fundação (1827) e faleceu em São Paulo (1886), há exatos 125 anos. Formou-se na turma de 1853. Poeta, jurista e Político, notabilizou-se como um dos mais brilhantes professores das Arcadas, de todos os tempos. Em sua homenagem, a estátua ocupa lugar de destaque no hall monumental de nossa Faculdade. Mas nem sempre foi assim… Saboreie um pouco de sua história na narrativa de LAURO MALHEIROS, da turma 1935.

 

“O Furto da Estátua de José Bonifácio”

Um chistoso episódio que marcou a época na vida acadêmica foi o do furto da estátua de bronze de José Bonifácio, o Moço, hoje colocada no saguão de entrada da Faculdade do Largo de São Francisco.

Conta-o, com muito humor, Rosário Benedicto Pellegrini, ao saudar, em sua posse no Tribunal de Justiça de São Paulo, o Desembargador Mário Hoeppner Dutra, seu colega de turma de 1936. Depois de ter posto em relevo as excelsas qualidades morais e intelectuais do empossando, a sua finura poética, o seu apurado senso estético, Pellegrini disse o seguinte:

“Mas ao lado do romântico está o homem de requintado espírito, dotado de excelente humorismo, e que me permito revelar, através de um fato que marcou época nos anais da nossa Faculdade de Direito, pondo em relevo a brilhante atuação da turma de 1936, comandada pela acuidade e habilidade do fino espírito do novel Desembargador. Ele, juntamente com outros colegas de turma – Jacob da Silva, Ruy Camargo Pires, Asdrúbal de Moraes Andrade e Jamil Miguel – estes dois últimos já desaparecidos – estiveram empenhados no furto da estátua de José Bonifácio, o Moço, que se encontrava no Depósito Municipal, localizado, a esse tempo, na Várzea do Carmo. Os raptores obtiveram uma audiência com o Prefeito Municipal de São Paulo – na época, o falecido Fábio da Silva Prado – para a remoção da estátua. Como o resultado da entrevista não fosse satisfatório, os estudantes, burlando a vigilância, apanharam da mesa do Prefeito um papel timbrado de memorando e preencheram-no como se fosse uma requisição, assinando-a Mário Hoeppner Dutra. Munidos desta, conseguiram a remoção da estátua, depositando-a no fundo do saguão da Faculdade, onde permanece até hoje. Isto ocorreu há pouco mais de trinta anos.”

“O signatário do memorando, até há algumas horas atrás Ministro do Tribunal de Alçada Criminal, acaba de ser empossado na mais alta Corte do nosso Estado. E o fato mais significativo, ainda: é o autor de um artigo intitulado: ‘Do fundo e do roubo’… (Revista dos Tribunais, v. 395, p. 439/450).

Assim, José Bonifácio, o Moço, que se encontrava sobre o alto pedestal, no Largo de São Francisco, defronte à Igreja que tem o nome do piedoso franciscano, voltou para o lugar que lhe competia, com uma vantagem: passou a morar no recesso da Faculdade, padrão de glória, celeiro de grandes patriotas!

E por falar em estátuas, não me conformo com o fato de ter a Prefeitura retirado, há anos, da Praça João Mendes, o busto deste brasileiro emérito, para colocá-lo sem condigno pedestal, quase ao rés do chão, num jardinzinho fronteiro à Faculdade do Largo de São Francisco. O grande porte do busto, em bronze, de João Mendes, exigia que ele fosse colocado em condigna peanha e não entre arbustos, na praça dos estudantes, em nível inferior ao da tribuna que ali foi erigida para os indefectíveis estudantes oradores.

Essa falta de estética e de bom gosto clama aos céus!

Quem sabe, um dia, alguém, do governo municipal, dotado de sensibilidade artística e patriótica, coloque o busto de João Mendes no local que lhe é devido.