O ” Pic- Pic” , cantado em todas festas de aniversário, nasceu nas Arcadas. É o que conta o Prof. Eduardo Marchi
O Prof. Titular Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi (também Diretor de nossa Faculdade de Direito, de 2002 à 2006) descreveu com minúcias e propriedade o nascimento desse verdadeiro “canto festivo”, imprescindível em qualquer celebração que ocorra em nosso País. Mais uma contribuição da criatividade acadêmica das Arcadas.
Tomamos a liberdade de reproduzir alguns trechos desse artigo do estimado Professor, publicado no jornal Folha de São Paulo:
“Como se sabe, em muitos lares do país, durante as comemorações familiares de aniversários, cantam-se, em seu ápice, os parabéns com a versão brasileira da famosa melodia do “Happy Birthday”.”
“Terminada a canção, surge de repente um grito de evocação: “E pro Fulano, nada! Tudo! E então como é que é? É”. Segue-se o conhecido e enigmático canto do “pic-pic”: “É pic, é pic, é pic, é pic, é pic! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! Fulano, Fulano, Fulano!”.”
“Na verdade, estamos diante de brincadeira e de gritos de guerra surgidos nos corredores e no pátio das Arcadas, entre os estudantes das primeiras décadas do século passado. A princípio, não apresentavam vinculação com festas de aniversários. Eram gritos de pilhéria, regozijo e canções de evocação.”
“Pic-pic” era o apelido de um dos líderes das “estudantadas” em sua época, década de 1920, Ubirajara Martins de Souza. Bacharelou-se pela nossa faculdade em 1927.”
“Era figura conhecida entre os colegas. Portava barba imponente, acompanhada de bigodinhos de pontas aguçadas. Vaidoso, aparava constantemente tais bigodes, servindo-se de uma tesourinha cujo peculiar som de corte sempre ecoava: “pic, pic, pic, pic”.”
“Não tardou para que tal característica lhe rendesse o apelido de “Pic-pic”! Quando aparecia, seus colegas o saudaram entusiasticamente: “É o Pic-pic, é o Pic-pic!”.”
“Já naquela época era costume entre os estudantes dirigir-se ao seu principal bar de encontro: o Ponto Chic, que segue funcionando no largo do Paissandu.”
“Ali, consumiam rapidamente as cervejas geladas disponíveis. Era preciso aguardar um tempo até que novas garrafas fossem refrigeradas, o que durava em média meia hora.”
“Os estudantes, acompanhando ansiosamente o avanço do relógio, alvoroçavam-se diante da proximidade do grande momento e punham-se em coro a cantar, clamando de modo desesperado pelas cervejas geladas: “Meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora!”
“Por fim, ainda naquele período, recebeu a faculdade uma insólita visita: um rajá indiano, chamado Timbum, proveniente da região de Kapurtala. O acontecimento inusitado, aliado à sonoridade do nome, deu chance aos alunos de incorporar, ao final dos seus cantos, novo grito de guerra: “Ra-já-Tim-bum!”.
“Geração após geração, foram sendo passados esses cantos e gritos de guerra, sobrepostos uns aos outros, entre os estudantes do largo: “É Pic, é Pic, é Pic, é Pic, é Pic!; meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora!; Rá-já-tim-bum!”.”
“Aos poucos, o canto do “pic-pic” foi-se difundindo pelas festas de aniversário em São Paulo, mesmo sem os estudantes, e depois estendeu-se para todo o país.”
“As Arcadas são assim: passado, mas também futuro. Olha-se para trás enquanto mira-se o porvir.”