Eu o incluo na galeria das grandes personalidades da História da Academia de Direito: o Professor Catedrático Manoel Pedro Pimentel, titular da cadeira de Direito Penal. À Turma de 1969, ingressantes do ano anterior, tive o privilégio de tê-lo, no segundo ano, orientador dessa disciplina fascinante. Nesse período, o Catedrático tornou- se secretário da Segurança Pública do Estado.

Os bedéis, enfatizando o senhor Paulo, eram orientados a providenciar, antes do início das aulas do Catedrático, um copo – que brilhava – de água mineral. Particularmente, não perdia por nada sequer uma aula do Professor Pedro Pimentel. Na turma, a colega Reni de Oliveira que sempre preferia sentar-se ao meu lado.

Certa vez, a então moça – que no fundo era uma das mais velhas da ala feminina – resolvera sair rapidinho entre os intervalos das aulas; voltou rapidinho também, portando um saco plástico transparente … e no seu interior um peixinho dourado, mas bem dourado mesmo, semelhante ao metal nobre, o ouro. Delicadamente, colocou-o no copo que brilhava. O bedel já havia, cuidadosamente, posicionado o copo rigorosamente centrado em pires; este, esbranquiçado como neve: super limpo!

Lembro que a sala, em formato de arena no terceiro andar do Prédio histórico, fez com a moça, que não era tão moça, Reni, afobada e atropelando toda a fileira conseguisse se acomodar. E ao meu lado! A posição da localização desta determinada fileira, na qual ambos nos encontrávamos junto aos demais acadêmicos, era a última. Sendo a última fileira, assistimos de maneira confortável às aulas e ainda vendo com privilégio a presença de professores a dissertar matérias doutrinárias. Não estávamos em uma Escola qualquer; já naquela época a Academia de Direito do Largo de São Francisco era a terceira melhor faculdade de Direito do mundo!

As estrelas jurídicas brilhavam tanto no interior das Arcadas quanto no Exterior; neste elenco, o Professor Manoel Pedro Pimentel que, ao entrar na cátedra esbanjando sua marcante personalidade, tentou se acomodar. Todavia, ao perceber o peixinho dourado pulando desesperadamente dentro do copo d’água, fizera com que o Professor se sentisse totalmente desconfortado.

As lentes do Professor eram escuras, nos moldes do modelo RayBan, as quais tornaram-se embasadas, mesmo porque se sentiriam ofendidas. E respeitosamente solicitou que o autor daquela façanha se levantasse, alegando que caso isso se sucedesse nenhuma repercussão aconteceria, dada a curiosidade do Catedrático em conhecer a autoria daquela brincadeira. Mas o cheio de graça que não teve graça alguma não se apresentara. As gargalhadas iniciais silenciaram imediatamente. A paciência se esgota, quando o prazo de cinco minutos acabou. O autor que tinha posto o peixinho dourado no copo d’água teve a chance de nesses cinco minutos se apresentar, o que não aconteceu.

Muitas vezes olhei para a Reni de Oliveira. A moça, que era uma das mais velhas da turma das acadêmicas, se recusava terminantemente a assumir a autoria! E o Catedrático Pedro Pimentel recusou a dar aula nesse dia; chocado saiu da sala. Tive a chance de perguntar a ela o porquê de não se apresentar. Ela não respondeu: chorou de vergonha.

A felicidade ou a sorte dela era que somente eu havia visto a sua façanha, embora compartilhada com a acadêmica Giselda Maria Fernandes Novaes, porque éramos confidentes desde o ano anterior. Aliás, a Giselda estava única e exclusivamente preocupada com o destino do peixinho dourado. Criou o maior problema com o senhor Paulo, bedel, para que entregasse a ela o pequeno dourado e tratou de devolvê-lo ao aquário que ficava no Largo de São Francisco, em frente da velha Academia. Em tempo, em 1974 fui classificado para o Mestrado e o querido e saudoso Catedrático Manoel Pimentel como orientador na área de Direito Penal, após rigorosa entrevista que dela dezenas de colegas participaram para número pequeno de vagas.

Uma cena marcante na vida acadêmica, mas muito mais com relação à Reni de Oliveira foi a de saber que ela se suicidou; claro que não foi pelo motivo de ter posto um peixinho dourado num copo d’água do Catedrático Manoel Pedro Pimentel. Mas essa história – que Deus a tenha Reni – nunca mais vou esquecer!

Em tempo, em 1974 fui classificado para o Mestrado e o querido e saudoso Catedrático Manuel Pimentel como orientador na área de Direito Penal, após rigorosa entrevista, da qual dezenas de candidatos participaram para número pequeno de vagas.