Manhã de 25 de fevereiro

CRUZANDO OS TRÊS ARCOS DO MERECIDO TRIUNFO

Havia um alarido diferente no vetusto Salão Nobre, localizado no 1º andar do Prédio Histórico, naquela manhã. Eram vozes de gente nova, que havia cruzado o Jardim de Pedras depois de ter sido ungida pelos arcos que homenageiam Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela. Aquela caminhada, largando a Território Livre para trás, subindo as escadas, deixou-os estupefatos no suntuoso salão.

Ali estavam consagrados os mais novos “filhos de São Francisco”, na definição do saudoso cronista das Arcadas, Sidney Gioielli.

Portanto, seria natural tal alarido, era mais do que pertinente aquele mantra de sofreguidão e inquietude. Eles haviam vencido.

E começava toda uma semana para recepcioná-los, procurando-se mostrar, a cada instante, a imensa responsabilidade que acabavam de assumir. Ou seja,

aquela de se incorporarem como personagens vivas de um Centro de Estudos mais do que secular, ícone definitivamente cinzelado na história do próprio País.

A Mesa Diretora da Sessão Inaugural da “Semana de Recepção aos Calouros”, do ano de 2008, foi presidida pelo diretor da Faculdade de Direito da USP, prof. titular Dr. João Grandino Rodas, e composta pelos seguintes membros: prof. titular Antônio Magalhães Gomes Filho, vice-diretor da Faculdade de Direito da USP; profa. titular Dra. Ivette Senise Ferreira; ministro Dr. Flávio Flores da Cunha Bierrenbach e o prof. titular Paulo Borba Casella. Presentes também, como convidados, o coronel da PM Fernando Pereira, juiz presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo, o presidente da Associação dos Antigos Alunos, Dr. José Carlos Madia de Souza e o Dr. Antônio Carlos Mourão Bonetti, diretor da entidade.

Os trabalhos tiveram início com a solene execução do Hino Nacional Brasileiro pelo Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que contou com a participação cidadã de todos os presentes.

A mesma corporação musical abrilhantaria os trabalhos com a execução de outros temas musicais brasileiros, que receberam calorosos aplausos dos presentes.

Além dos palestrantes convidados para apresentar temas específicos, a parte expositiva teve participações especiais, como a do prof. titular Paulo Borba Casella, presidente da Comissão Organizadora da “Semana de Recepção aos Calouros”, no sentido de implementar, por meio de um acontecimento cuidadosamente planejado, a apresentação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco como um ser vivo e atuante.

O presidente do Centro Acadêmico “XI de Agosto”, Paulo Henrique Rodrigues Pereira, em palavras simples e objetivas, apresentou detalhada exposição de cada fase dos trabalhos a serem desenvolvidos na Semana e versou sobre a importância de tal esforço e da adesão de cada um, assim como da participação efetiva de todos nas diferentes fases da jornada que se iniciava naquela manhã.

“SAUDAÇÃO AOS CALOUROS” foi o tema que a profa. titular Dra. Ivette Senise Ferreira, ex-diretora da Faculdade de Direito da USP e primeira mulher a ocupar tal posição funcional, utilizou para apresentar um caloroso discurso de boas-vindas aos ingressantes no curso jurídico no ano de 2008. Seus comentários versaram sobre a seriedade com que os desafios acadêmicos devem ser encarados pelos recém-chegados, os valores institucionais da velha e sempre nova Academia, suas tradições, bem como a sua a invejável posição entre as Faculdades de Direito brasileiras, graças ao peso intelectual do seu experiente corpo docente.

OS SEMPRE ÚTEIS CONSELHOS DE UM DIRETOR

E AS REMINISCÊNCIAS DE UM ANTIGO ALUNO

Duas palestras também foram destaques da manhã de abertura da “Semana de Recepção aos Calouros”. A primeira, que praticamente abriu os trabalhos, foi proferida pelo Diretor da Faculdade, prof. titular Dr. João Grandino Rodas. A outra, o pronunciamento com toques emotivos, sempre calcados em intensa vida acadêmica, do ministro Dr. Flávio Flores da Cunha Bierrenbach.

Frases marcantes do prof. titular Dr. João Grandino Rodas, diretor da Faculdade de Direito da USP, ao saudar os calouros de 2008:

Sobre a constante renovação:

“Anualmente, há quase dois séculos, nosso corpo discente se renova, o mesmo acontecendo com os seus Mestres. Neste ano, de uma maneira original, teremos, pela primeira vez, cinco ilustres representantes da área docente tomando posse simultaneamente, em solenidade que faz parte desta semana de recepção dos novos alunos. Tal renovação – constante e revitalizadora – serve para mostrar a intensa e generosa dinâmica que norteia a vida acadêmica desta Faculdade”.

Sobre o liberal diferenciado e a excelência do formando:

“É sabido que, anualmente, milhares de novos advogados recém-formados disputam o rigoroso mercado de trabalho desta atividade liberal.

Como poderiam ser diferenciados positivamente, diante da profusão de talentos, todos disponíveis e cheios de ambição, aqueles que poderiam ser destacados como os melhores?

Com certeza serão prestigiados aqueles que, ao longo da sua preparação acadêmica, à mercê do seu valor e dos seus esforços individuais, souberam encontrar pontos diferenciadores que os tornarão positivamente valorizados.

Não existe outra Faculdade onde melhor se possa confirmar essa assertiva do que as Arcadas. Portanto, estudem para ser os melhores. E diferenciados”.

Sobre a manutenção e conservação do patrimônio material:

“A partir desta semana, vocês passam a fazer parte da grande Família Arcadiana. Portanto, esta é a casa de vocês. Um patrimônio histórico da nossa cidade, do nosso Estado, do Brasil. Temos de assumir, em conjunto, a responsabilidade de mantê-lo conservado e aperfeiçoado, em processo funcional, como o recebemos de nossos antecessores. Temos que ser defensores aguerridos deste legado com que a própria história nos contemplou”.

Frases marcantes do AA ministro Dr. Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, presidente de honra da AAA-FDUSP, no seu pronunciamento sobre a importância histórica da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco:

A diferença entre ex-aluno e Antigo Aluno:

“Permita-me chamá-los de colegas. Porque é importante que saibam que não existem ex-alunos desta Faculdade. Somos todos Antigos Alunos. E, enquanto vivermos, jamais deixaremos de sê-lo”.

Saint-Exupéry e o senso da responsabilidade:

“O escritor francês Saint-Exupéry, ao definir a amizade, afirmou:

“Quando fazemos um amigo, assumimos uma responsabilidade para sempre”. Vocês estão iniciando uma amizade nova, uma amizade com esta Faculdade. Por conseguinte, estão assumindo uma responsabilidade que jamais deixará de ser cobrada de vocês. Pensem nisso”.

Apenas uma Faculdade de Direito?

“As Arcadas, desde o Segundo Império, jamais deixaram de formar representantes que acabaram se constituindo na elite pensante deste país. Políticos, escritores, em prosa e em verso, pensadores, jornalistas, artistas, saíram de suas salas de aula para criar um novo e autêntico pensamento brasileiro. Veja-se este exemplo secular. Chegou-se a identificar, simultaneamente, Antigos Alunos como o Conselheiro Crispiniano, que governava Mato Grosso, e seu colega, o Conselheiro Carrão, que ocupava o governo de Goiás. E, além dos dois citados, outro contemporâneo, Conselheiro Ramalho, atuando em um dos mais importantes postos da Corte. Esta respeitável história vem se repetindo constantemente ao longo dos últimos 181 anos, para orgulho de todos nós”.

As Arcadas como palco dinâmico de idéias:

“A luta pela abolição da escravatura, pela República (a chamada Convenção de Itu, que colocou em ordem o ideal republicano, tinha entre os seus integrantes dez arcadianos), as ativas participações nas mais diversas Constituintes, os movimentos cívicos com as Revoluções de 24 e 30, a brilhante participação na Revolução de 32, quando esta Faculdade foi representada por um batalhão inteiro de combatentes; e, posteriormente, a integral participação de arcadianos nas fileiras da FEB e da FAB, na Segunda Guerra Mundial, a luta contra o Estado Novo de Vargas, além de campanhas cívicas, como a do “Petróleo é nosso”, contra a arbitrariedade dos “anos de chumbo” da última ditadura (anos 60/80), o “Diretas Já”, depois da corajosa “Carta aos Brasileiros”, de autoria do mestre Goffredo da Silva Telles Jr. e lida pelo autor, no histórico pátio deste edifício, além de muitas outras, retratam muito bem a alma desta Academia. Um verdadeiro palco onde as mais autênticas e democráticas posições são debatidas com o ardor da liberdade, do respeito, da ética, e com a mais autêntica e verdadeira paixão pelo Direito”.

Um conselho:

“Ao encerrar as minhas palavras, um conselho:

Vocês são jovens

Continuem jovens

Vocês precisam mudar o mundo. E vão mudar”